Nascido em 1965, na Normandia, MICHEL BUSSI é um dos mais prestigiados autores franceses da ...
Agraciado com 4 prêmios na França, entre os quais o Prix Maison de la Presse e o Prix du Roman Populaire, O voo da libélula teve seus direitos vendidos para 25 países e ganhará uma adaptação cinematográfica.
Na noite de 23 de dezembro de 1980, um avião cai na fronteira entre a França e a Suíça, deixando apenas uma sobrevivente: uma bebê de 3 meses. Porém, havia duas meninas no voo, e cria-se o embate entre duas famílias, uma rica e uma pobre, pelo reconhecimento da paternidade.
Numa época em que não existiam exames de DNA, o julgamento estende-se por muito tempo, mobilizando todo o país. Seria a menina Lyse-Rose ou Émilie? Mesmo após o veredicto do tribunal, ainda pairam muitas dúvidas sobre o caso, e uma das famílias resolve contratar Crédule Grand-Duc, um detetive particular, para descobrir a verdade.
Dezoito anos depois, destroçado pelo fracasso e no limite entre a loucura e a lucidez, Grand-Duc envia o diário das investigações para a sobrevivente Lylie e decide tirar a própria vida. No momento em que vai puxar o gatilho, o detetive descobre um segredo que muda tudo. Porém, antes que possa revelar a solução do caso, ele é assassinado.
Após ler o diário, Lylie fica transtornada e desaparece, deixando o caderno com seu irmão, que precisará usar toda a sua inteligência para resolver um mistério cheio de camadas e reviravoltas.
Em O voo da libélula, o leitor é guiado pela escrita do detetive enquanto acompanha a angustiada busca de uma garota por sua identidade.
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Estava na hora.
Ele posicionou com delicadeza o L’Est Républicain bem na sua frente, avançou a cadeira e empunhou com firmeza a coronha do revólver com a mão suada.
Tentou não pensar em mais nada, concentrar-se no vazio.
Curvou o corpo e encarou a matéria 20 centímetros à sua frente. Olhou uma última vez para a foto da fuselagem carbonizada, para a do bombeiro em frente ao hospital de Montbéliard segurando delicadamente um corpinho um pouco azul demais. A milagrosa sobrevivente.
Seu olhar se fixou para todo o sempre; a tinta ficou mais nítida, como a lente de uma câmera que se ajusta, como uma derradeira janela para o mundo antes de tudo mergulhar na névoa.
O impensável atingiu Grand-Duc como se uma descarga elétrica intensa e repentina houvesse varado seu corpo.
No início, pensou que fosse uma ilusão, uma alucinação provocada pela iminência da morte, um mecanismo de defesa inventado por seu cérebro.
Não!
O que estava vendo, o que estava lendo naquele jornal era muito real.
Estava tudo ali.
O detetive começou a raciocinar; ao longo dos anos, havia criado muitas hipóteses, centenas delas, mas agora tinha o ponto de partida, e bastava puxar o fio para tudo se desenrolar com uma simplicidade desconcertante.
Baixou o revólver e, sem querer, deixou escapar uma risada ensandecida.
A solução estava ali, desde o princípio, à espera, sem pressa: era impossível encontrá-la na época, dezoito anos antes. Todo mundo tinha lido aquele jornal, todo mundo o tinha esmiuçado e analisado mil vezes, mas ninguém poderia ter adivinhado, nem em 1980 nem durante todos os anos que haviam se seguido.
A solução saltava aos olhos… com uma condição.
Uma única condição, totalmente absurda.
Abrir aquele jornal dezoito anos depois!