Antonio Olavo Pereira nasceu em Batatais, no interior de São Paulo, em 1913. Aos 20 ...
“O que constitui a maior originalidade do romance é a sua construção. Nele o fio da vida corre como a própria vida. É um livro de valor. Um livro que faz chorar. Mas é acima de tudo um romance.” – José Lins do Rego
Publicado pela primeira vez em 1957,Marcoré recebeu o Prêmio de Romance da Academia Brasileira de Letras e foi aclamado pelo público e pela crítica, sendo considerado uma das grandes obras da moderna literatura brasileira de cunho psicológico. Depois de mais de duas décadas fora do mercado, ganha nova edição em comemoração ao centenário de nascimento do autor, com belas ilustrações do gravurista pernambucano Newton Cavalcanti.
Com um estilo sóbrio e intimista, Antonio Olavo Pereira retrata o dia a dia de uma pequena cidade no interior de São Paulo. O protagonista é o oficial-maior do cartório da cidade, um homem introspectivo que se vale de seu privilegiado posto de observação – aonde as notícias sobre nascimentos, mortes, casamentos e acordos comerciais chegam em primeira mão – para especular sobre as motivações ocultas das pessoas e refletir sobre a condição humana. Consciente da precariedade da existência, ele enxerga a vida com um pessimismo temperado com compaixão.
O drama central da narrativa, no entanto, se desenrola na vida pessoal do oficial-maior, dentro da casa dos sogros – onde mora –, no convívio com a doce e frágil esposa, Sílvia, e nas dificuldades de relacionamento com a sogra irascível. A sufocante rotina familiar acaba sendo quebrada por uma notícia surpreendente que irá provocar mudanças inesperadas para todos: depois de dez anos de casamento, Sílvia descobre que está grávida do primeiro filho, Marcoré.
Preciso e econômico na linguagem, Antonio Olavo Pereira demonstra um profundo conhecimento da natureza humana ao criar personagens extremamente verossímeis que parecem compor um documento da vida familiar brasileira.
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“(…) o que esse belo e atormentado livro principalmente nos ensina é que não perdemos os nossos filhos apenas quando os vemos mortos: todos eles morrem quando deixam de ser crianças e viram homens e mulheres… Marcoré é livro de escritor definitivo.” — Rachel de Queiroz
“(…) Em Marcoré, do vento regional que sopra sobre os personagens, pode-se dizer que, à maneira do vento espanhol, é tão sutil que mata um homem e não apaga um candil. Mas sopra. Acaricia. Mata. Faz sofrer. Mesmo sob a forma de um vento inventado por menino e por ele associado às sombras das mangueiras do fundo do quintal dos pais. Um vento que se confundindo sempre com o tempo é um vento que vem ao fundo dos quintais das casas mais caracteristicamente regionais e desaparece em espaços e tempos onde não há nem mangueiras nem sol; são só espaço e tempo. Indefinidos. Universais.” — Gilberto Freyre
“Mencionemos ainda a perfeição da língua e da composição, sem uma falha, sem o menor deslize, de um gosto apurado e, ao mesmo tempo, de uma total eficácia. Marcoré representa, em nossa ficção atual, um ponto de refinamento e maturidade que pressagia os mais auspiciosos desenvolvimentos.” — Antonio Candido
“Em Marcoré o que domina soberanamente são fatos humanos tão incisivos como os da vida real, mas que não surgem como uma representação mecânica da vida real. (…) A.O.P. surpreende‑nos justamente por esse não sei que poder de valorizar pela ideia, e ainda pelos seus deliciosos recursos de expressão, tudo o que é mais substancial da sua narração. Daí o humor, a graça, o movimento com que sabe variar aquelas cenas da vida comum.” — Olívio Montenegro
“Poucos romances no Brasil de hoje souberam transformar, com tanta sabedoria quanto Marcoré, o cotidiano, o trivial mesmo, em obra de arte.” — Eduardo Portella
“Cada um de seus personagens permanece indefinidamente na nossa imaginação, como um velho conhecido ou alguém de nossa família. A.O.P. sabe equilibrar o introspectivo e o descritivo, caracterizar o vago e o indefinido, formando os seus tipos inesquecíveis. Marcoré é um grande romance brasileiro, uma lição de poesia, de redação, de seriedade.” — Mara Lobo (Patrícia Galvão, Pagu)